SILVEIRA, Cristiane Amaro da

Tecnociência, democracia e os desafios éticos das biotecnologias no Brasil - Porto Alegre : UFRGS, jan./jun. 2008

O crescente questionamento das idéias evolucionistas e das grandes narrativas que serviram de suporte, desde os clássicos, aos estudos nas áreas das ciências sociais tem desencadeado reações diversas no âmbito acadêmico. Se as tendências pós-modernas e as teses do fim da História se situam legitimamente neste espaço de possibilidades, não menos influentes são as propostas de releitura da realidade em que vivemos, a partir do projeto moderno e sua radicalização. É dentro deste último empreendimento que Anthony Giddens propõe a perspectiva de um novo pacto de segurança ontológica, que passa a ser construído em um mundo de sistemas abstratos que precisam ser reencaixados em dimensões globais. As discussões envolvendo as novas biotecnologias, em nível mundial e no Brasil, são reveladoras de características interessantes deste novo momento da humanidade. Os pontos de acesso desencadeados por pavores alimentares e preocupações ambientais fazem, neste sentido, mais do que diminuir a fidedignidade em relação ao conhecimento perito; provocam reordenamentos de implicações éticas, sociais e políticas bastante distintos da “heurística do medo”, proposta pelo filósofo Hans Jonas. Como tais reordenamentos sinalizam para novas tendências no processo de gestão das tecnologias à luz da recente polêmica configurada em torno das novas biotecnologias no Brasil? É sobre esta questão que o presente texto pretende refletir.